Os problemas e virtudes da região central de São Paulo se repetem em menor escala em seus 96 distritos, com mais de 700 bairros. No distante Santo Amaro, na zona sul, uma das atrações é a Pagela, uma galeria de lojinhas que lembra a Rua 25 de Março. O distrito já foi um município autônomo, até ser incorporado por São Paulo em 1935. Hoje, tem universidade, biblioteca pública e igreja, cercada com grades e em processo de restauração. O Largo 13 é reduto de moradores de rua e camelôs. Músicos peruanos tocam flauta e vendem CDs.
Os pichadores já deixaram rastros em toda parte. Há também lixo, ruas e calçadas sem cuidados. O ambulante Valdomiro Reis, de 60 anos, diz que o bairro tem a “cara” do Nordeste. “Pode sair perguntando, é tudo baiano, paraíba e cearense.” Uma das marcas é o churrasco grego, espeto giratório de carne, a R$ 1 no pão, com direito a suco. Moradores reclamam da demora nas obras do metrô, paralisadas há um ano. O trânsito é confuso e falta ônibus no horário de pico.
O bairro da Penha, na zona leste, também tem vida própria, com shopping, mercadão, camelódromo, o tradicional Clube Esportivo e várias igrejas, entre elas a basílica de Nossa Senhora da Penha. Morador há 48 anos, o comerciante Nelson Rocha, de 53, lembra que, antes da chegada do metrô, o bairro era servido por uma única linha de ônibus, a Lapa-Penha. O percurso era tão longo que serviu de referência para a dose dupla de cachaça do lugar, segundo Rocha. “No bar até hoje a gente pede um lapa-penha.” O bairro está cercado de prédios populares e favelas. À noite falta segurança e rolam bailes funk. “Isso é São Paulo”, diz.
Andar pelas ruas da Casa Verde, na zona norte, é como estar no interior. Quitandas, lojinhas e lotéricas se misturam com residências térreas, com pequenos jardins e floreiras nas janelas. As pessoas se cumprimentam pelos nomes. O bairro, bem cuidado, não tem prédios, graças à proximidade do Aeroporto Campo de Marte, em Santana. “Estamos preocupados porque já liberaram as construções”, diz o comerciante Sidnei Santos.
Considerado o primeiro bairro de São Paulo, Pinheiros, na zona oeste, foi aldeia indígena e depois rota dos tropeiros que chegavam do Sul do País. As obras do metrô tumultuaram a rotina dos moradores. “Queremos frear a verticalização e preservar os bolsões verdes”, disse o engenheiro ambiental Mário Sampaio, militante de uma associação de moradores.
Entre as áreas deterioradas estão o antigo Largo da Batata e o entorno da Estação Faria Lima. Atrações são a Igreja do Calvário e a feira de antiguidades da Praça Benedito Calixto. Sampaio considera a Vila Madalena, com sua elegante boemia, uma extensão de Pinheiros. Em ruas charmosas, como a Purpurina, a Harmonia e a Delfina, alternam-se barzinhos, ateliês, pubs e padarias.
Fonte: O Estado de S. Paulo